A tecnologia GIS como suporte para a gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos de mineração

Por Conexão Mineral 23/10/2019 - 18:05 hs
Foto: Imagem/ESRI Brasil
A tecnologia GIS como suporte para a gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos de mineração
Exemplo de utilização de tecnologia GIS para gestão de atividades minerárias

Por Daniel Henrique Candido*

 

A ampla diversidade das atividades executadas na cadeia produtiva do setor de mineração faz com que esta seja a mais complexa e desafiadora atividade industrial dentre todas as existentes. A exploração de minérios envolve atuação em diversas frentes de trabalho, incluindo operações de características diversificadas, relacionadas à pesquisa, exploração, beneficiamento, gerenciamento ambiental e logística, entre outros.

Como consequência deste elevado nível de complexidade, observa-se ampla gama de problemas de negócios relacionados às atividades minerárias. Dentre as principais necessidades do setor, destaca-se a exigência de se obter conciliação entre produtividade e níveis de segurança satisfatórios.

Recentemente, importante aprendizado tem sido registrado, em decorrência do registro de acidentes vinculados ao rompimento de barragens de rejeitos. Tais ocorrências fizeram com que o setor compreendesse que é imperativo que se proceda rapidamente a adoção de tecnologias que permitam a redução dos riscos, trazendo maior segurança operacional às atividades do cotidiano da indústria.

A alternativa mais adequada para atender tal necessidade consiste na adoção de estruturas computacionais baseadas em tecnologia GIS. O GIS, sigla em inglês para “Sistema de Informações Geográficas”, consiste em um sistema focado na integração de informações geoespacializadas, incluindo dados coletados por instrumentos, informações ambientais, parâmetros de equipamentos e quaisquer outros dados que se julgar pertinente, de modo a compor um vasto banco de dados que agrupe todos os elementos coletados.

A tecnologia GIS pode ser particularmente útil no monitoramento de parâmetros relacionados à segurança de barragens, uma vez que permite agregar uma rede de instrumentos em uma única plataforma, permitindo a visualização desses dados de forma rápida e interativa. Dashboards personalizadas podem ser criadas, tornando possível a visualização de informações em tempo real, informando os operadores instantaneamente sobre quaisquer dados fora de parâmetros.

É importante salientar que a Lei Federal número 12.334/2010 estabelece que o empreendedor responsável por quaisquer barragens destinadas à acumulação de água ou rejeitos seja o responsável por:

· Manter serviço especializado em segurança de barragem;

· Providenciar a elaboração e a atualização do Plano de Segurança da Barragem;

· Elaborar o Plano de Ação de Emergência (PAE), quando exigido;

· Manter registros dos níveis dos reservatórios, com a respectiva correspondência em volume armazenado, bem como das características químicas e físicas do fluido armazenado;

· Manter registros dos níveis de contaminação do solo e do lençol freático na área de influência do reservatório.

Neste sentido vale destacar que a tecnologia GIS consiste em um excelente instrumento para colocar a empresa em consonância com a legislação, uma vez que os sistemas de informações geográficas permitem que equipamentos como piezômetros, câmeras, radares de precisão, laser scanners, drone, acelerômetro, sensores de nível, estações robotizadas, entre inúmeros outros instrumentos, sejam integrados em uma mesma plataforma. Com o auxílio do GIS, estes dados podem ser tratados, interpolados e retrabalhados, permitindo análises mais aprofundadas, que permitam encontrar correlações entre informações de distintas origens.

Os elementos coletados por tais instrumentos podem ser agregados a informações de interferometria provenientes de satélites para melhorar ainda mais a acurácia das análises empreendidas.

O sistema GIS possibilita a criação e manutenção de um banco de dados geográficos, o qual pode ser integrado aos demais banco de dados já utilizados pela companhia, de modo a formar um grande repositório de dados geoespaciais, permitindo sua exibição de forma cartográfica ou em painéis composto por gráficos e mapas associados para sintetizar todas as informações coletadas.

A presença de um banco de dados geoespacializado municia a empresa com grande eficiência e velocidade na recuperação de dados, permitindo que qualquer agente interessado tenha acesso a informações atuais ou pretéritas de qualquer elemento que seja demandado. Esta característica proporciona grande incremento nos níveis de segurança operacional, além de significativos ganhos de produtividade para a equipe envolvida no monitoramento.

É conveniente afirmar que, recentemente, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) lançou o "Guia de Boas Práticas para Gestão de Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos", o qual afirma em seu item 4.5.1 que “as informações espaciais referentes ao projeto poderão ser mantidas em banco de dados geográficos”, evidenciando a aderência dessa tecnologia como catalisador de ações preventivas, minimizando os riscos decorrentes da presença de barragens nas proximidades de áreas antropizadas.

Considerando tais aspectos, destaca-se que a plataforma ArcGIS possibilita a criação e manutenção de um banco de dados geográfico, disponibilizando-o para acesso local ou online. Por tratar-se de tecnologia baseada em dados geoespacializados, o sistema permite acompanhar, além dos parâmetros dos instrumentos, informações exatas sobre sua localização. Essas ferramentas também permitem a incorporação de imagens de satélites e drones para elaboração de imagens tridimensionais e execução de algoritmos de detecção de mudanças, voltados a indicar em quais pontos ocorreram modificações no uso e ocupação do terreno. Devido à amplitude de possibilidades de utilização, é possível afirmar que a adoção de uma plataforma GIS consiste em uma quebra de paradigmas, levando a empresa em questão para dentro do conceito de indústria 4.0.

Conforme já afirmado, é notória a complexidade das atividades executadas pela indústria de mineração. A adoção da tecnologia GIS é capaz de atuar como embasamento para a melhoria dos processos relacionados à todas as etapas da cadeia produtiva deste setor. O ganho em segurança operacional consiste em apenas uma das inúmeras vantagens que um GIS bem estruturado é capaz de oferecer ao setor minerário. Considerando o grande volume de material mobilizado e elevados custos dos ativos envolvidos, é imprescindível que as empresas deste setor utilizem a tecnologia GIS como suporte para o acompanhamento de suas atividades.


(*) Daniel Henrique Candido é especialista em recursos naturais da Imagem - Distribuidor Oficial ESRI Brasil